segunda-feira, dezembro 27, 2010

“EXPO XANGAI”: O LEMA E A NOSSA PRESTAÇÃO

Caiu o pano sobre a maior exposição jamais realizada no planeta: a exposição universal de Xangai, China. Acolheu um número recorde de mais de 240 países e organizações internacionais e recebeu mais de 70 milhões de visitantes (bateu o recorde de 64 milhões que pertencia a Expo de Osaka, Japão, em 1970).
Estes seis meses ficarão certamente para a história. No entanto, nesta hora final, e em jeito de balanço, quero deixar dois comentários. Um é sobre a nossa participação e o outro, o lema da exposição.
A nossa prestação foi boa. Tive o privilégio e o prazer de estar presente no “dia nacional de Cabo Verde”, no passado 8 de Outubro. Confesso que gostei. Em Xangai, sob o lema “global and small” (no fundo um pequeno país inserido numa grande aldeia global), com a presença do Presidente da República e a animação das nossas maiores estrelas da cultura (Cesária, Mayra, Tcheca e Raíz di Polon), o nosso país passou uma excelente imagem ao mundo. No final, fomos quatro vezes premiados. Melhor seria impossível.
Por isso, quero dar os parabéns à comissão organizadora, na pessoa do comissário, arquitecto Vieira, do Director do stand, Dr. José Correia, e de todo o staff, sem esquecer o magnifico trabalho dos voluntários, na sua maioria estudantes, que tiveram que abdicar dos seus afazeres académicos e tempos livres em prol do patriotismo. A todos, os meus parabéns e um sincero obrigado.
Quanto à exposição, valeu pelo seu todo: pela sua dimensão, pela qualidade dos pavilhões ou pela diversidade dos subtemas tratados pelos diversos expositores. Contudo, há um pormenor que mais me chamou a atenção: o lema escolhido - “Better City, Better Life”. Ou seja, “melhores cidades, maior qualidade de vida” para as pessoas. Não podia haver mais feliz escolha.
Não é só uma frase bonita. Não é só retórica. É, sobretudo, uma frase carregada de conteúdo e de mensagem, que aliás está na ordem do dia. Um tema que desafia a todos os países, independentemente da sua dimensão.
Cabo Verde, não obstante a sua pequenez física, também é desafiado. Os nossos governantes, os nossos empresários e toda a sociedade civil são todos chamados. Ninguém pode ficar de fora.
A presença, na comitiva presidencial, dos principais actores que lidam com a política de habitação e ordenamento de território foi notória. Quer dizer que há alguma preocupação política no domínio da urbanização. Mas não chega. Não podemos ficar só com “preocupações”. É preciso concretizá-las.
Também, queria sublinhar um outro pormenor: a ausência da nossa classe empresarial na delegação. Custa-me acreditar que os nossos empresários não dão valor a um certame desta envergadura. Ou há motivos outros que justificam esta ausência?
Voltemos ao lema e à sua mensagem. Hoje já é consensual que não se pode ter uma boa qualidade de vida sem, antes, haver melhores cidades. Uma melhor cidade, por sua vez, pressupõe um conjunto de mudanças em vários domínios: na urbanização, no ordenamento do território, na política dos solos ou nas técnicas de construção civil, só para citar alguns. No entanto, há uma outra variável, fundamental em toda esta equação: a eficiência energética.
Por isso, foi notória uma preocupação da parte dos expositores: as soluções e opções energéticas nos edifícios e na construção civil, com enfoque nas tecnologias renováveis.
A mensagem foi clara: não podemos continuar a construir como temos feito até agora. Precisamos de cidades mais verdes. Cidades menos poluídas. Mais ordenadas. Mais voltadas para o ambiente. Ou seja, urge um novo paradigma energético no sector da construção civil.
Não se pode esquecer que, hoje, os edifícios - as residências, os escritórios, os edifícios públicos, os espaços comerciais, os bancos ou os hotéis - continuam a ser um dos maiores consumidores de energia (cerca de 40%) e maiores poluidores (30% das emissões de gases efeito estufa).
Por isso, e na forma de repto, deixo aqui algumas interrogações, aliás já feito no pretérito:
·          Quando é que vai haver definitivamente uma política energética focalizada nas opções eficientes e inteligentes para o sector da construção civil?
·          Quando é que vai haver políticas de massificação da solar térmica (painel solar) para água quente; de sistemas de pequena/média escala off-grid não ligados à rede eléctrica (na iluminação pública ou zonas remotas)?
·          Quando é que o governo vai mostrar claras políticas de incentivos e benefícios fiscais para compras de equipamentos de energias renováveis? Dois exemplos: isentar o IVA incidente sobre painel solar e dedução no IUR das despesas com custos de equipamentos.
·          Quando é que as construtoras vão começar a dar claros sinais de mudança, recorrendo a soluções de energias renováveis (ex: candeeiros solares) ou sistemas de utilização racional da água (ex: reciclagem da água para rega de jardins) nos novos condomínios?
·          Quando é que vai haver a introdução da Qualidade e Certificação Energética de Edifícios como uma medida de eficiência energética nos edifícios?
A “Expo Xangai” chegou ao seu fim. Ficam duas notas finais em jeito de rodapé. Primeiro: temos que começar a preparar a “Expo Yeosu” (em 2012, na Coreia do Sul) que já está à porta. Segundo: dizer que tenho esperança que a “mensagem de Xangai” tenha ido na bagagem dos nossos ilustres representantes. Tanto a presidência, com a sua pedagogia e influência, como o governo, responsável pela execução das políticas, têm a obrigação de levar a mensagem a todo Cabo Verde, mas sobretudo fazer com que a mensagem seja posta em prática. Afinal, os cabo-verdianos, também, merecem ter uma melhor qualidade de vida.

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