Numa organização (empresarial, militar ou política), o sucesso depende de vários factores. Primeiro, uma liderança forte. Depois, são precisos meios (humanos, técnicos ou financeiros). Tem de haver um claro objectivo. Dedicação e muito trabalho são, também, fundamentais. Mas, tudo isto cai por terra se não houver uma coisa: estratégia.
Estratégia, conceito importado da área militar, é, no fundo, a maneira de usar todos os meios à disposição para se atingir um determinado objectivo. A sua correcta definição, por sua vez, passa por uma análise criteriosa de todas as variáveis envolvidas no processo.
No meio de tudo isto, uma boa avaliação da nossa organização, tanto interna como externamente, torna-se crucial. Ou seja, é fundamental que conheçamos bem, primeiro a nós próprios, e, depois, os outros (aliados, adversários ou inimigos).
Sun Tzu, sábio chinês, autor do “The Art of War” e um dos maiores “gurus” do estrategismo militar, disse, mais ou menos, isto: "Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você conhece a si mesmo, mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas".
Dito de uma outra forma: se, da nossa parte, houver um auto-conhecimento e um conhecimento do inimigo não precisamos ter receio de nada. Não precisamos temer nenhuma batalha (negocial, militar ou eleitoral).
Toda esta nota introdutória, só para lançar esta reflexão: quem vai ser, de facto, o verdadeiro inimigo do MpD nas próximas eleições?
Antes, um pequeno parêntese: sei que uma eleição não é uma guerra; sei que os partidos não são inimigos, mas sim adversários. Ou seja, esta analogia, entre uma eleição e uma guerra, vulgarmente utilizada noutros contextos, deve ser entendida no bom sentido.
Posto isto, e voltando à questão, acredito que muitos responderão: Paicv. Respeito quem pense assim, mas, com a modéstia opinião, esta resposta está errada. Diria mais: pensar assim é meio caminho andado para a derrota.
Primeiro, porque o Paicv, assim como a UCID ou outros partidos, como já disse anteriormente, nunca pode ser considerado um inimigo. Deve, sim, ser considerado um adversário. Aliás, digno e forte.
Segundo, porque o inimigo, o verdadeiro, apesar de não ter um rosto, tem um nome: chama-se ABSTENÇÃO. Este, sim, é o grande inimigo do MpD. Senão, vejamos!
Analisando as várias eleições legislativas que o país já teve, facilmente constataremos dois aspectos: primeiro, a seguinte evolução (quase que duplicou) na taxa de abstenção nas quatros eleições – 25% (1991), 33% (1996), 45% (2001) e 46% (2006); segundo, as grandes mobilizações (91 e 96) deram grandes vitórias ao MpD, e as fracas afluências (2001 e 2006), ao Paicv.
Sem querer tirar todo o mérito ao adversário, pergunta-se: nas vitórias do Paicv, o “aliado” abstenção não deu uma “ajudinha”?
Deixo uma outra coincidência: a mais baixa taxa de abstenção de sempre (19,76%) redundou na última grande vitória do MpD: as autárquicas de 2008.
Parece que não restam dúvidas: a abstenção é o inimigo “número um” do MpD e o grande “aliado” do Paicv.
Identificado o verdadeiro inimigo, a melhor estratégia só pode ser esta: ir buscar votos ao eleitorado desse maior “partido” cabo-verdiano que é a abstenção.
Se a estratégia do MpD for, conforme acredito, um apelo a uma grande mobilização, o partido não precisa temer a batalha de 2011, pois, provavelmente, ganhá-la-á.
Acredito, contudo, que a abstenção é muito mais do que isto. É, sobretudo, o maior inimigo da democracia. Por isso, nas próximas eleições, e independentemente de beneficiar mais este ou aquele, todos os partidos, mas todos, devem concentrar todas as suas forças e atenções, não nos adversários, mas sim nesse inimigo comum que é a abstenção. É, sem dúvida, o inimigo a combater.
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