sexta-feira, julho 16, 2010

O DIAGNÓSTICO DE UM PAÍS

Todos nós já fomos ao médico. Quando lá vamos, temos todos a tendência em irmos bem vestidos (escolhemos a nossa melhor camisa ou o nosso melhor vestido) e todo contente. Com o nosso melhor aspecto físico possível. Inconscientemente, ou não, fazêmo-lo para impressionar o nosso médico. Para lhe mostrar que estamos “bem de saúde”.

Se tivermos o azar de apanhar um médico distraído, podemos enganá-lo, facilmente. Depois dele concentrar toda a sua atenção na nossa bonita cara, nos nossos belos braços e (claro!) nas nossas belas pernas, a tendência é, sempre, fazer este diagnóstico: Você está com uma saúde ferro!
Contrariamente, se ele for mais atento, primeiro, aproveita, e bem, aquela pequena conversa de introdução, já da praxe, para nos fazer algumas perguntas pertinentes. Depois, pega num aparelho chamado esfigmomanómetro (peço desculpas aos médicos se estiver a “rasgar” o dicionário deles) e num estetoscópio. Mede a nossa tensão arterial. Vê o nosso batimento cardíaco. Com as mãos e olhando para o relógio, mede a nossa pulsação. Se não ficar convencido, manda-nos, ainda, fazer umas análises. Só depois é que nos faz o retrato da nossa saúde.
São estas as grandes diferenças entre dois tipos de médicos: Um distraído e um atento.
O primeiro, o distraído, faz o diagnóstico com base no aspecto físico. Na aparência. No visível. Com o “olhómetro” ou o “impressómetro”. Todavia, o segundo, o mais atento, prefere falar, sentir e medir. Prefere o estetoscópio, o raio X ou o termómetro. Sabe que a saúde, ou a falta dela, não está no que “se vê”, mas sim no que “não se vê”. Sabe que está, quase sempre, no “por dentro” e não no “por fora”.
Lanço-lhe um desafio, meu caro leitor. Vou pedir-lhe para vestir a bata branca e colocar estetoscópio a volta do pescoço. Vou pedir-lhe para se vestir na pele de um médico. Está pronto? Vamos lá.
Agora, imagine que está no seu consultório, e, de repente, bate à porta e entra um paciente de nome “Cabo Verde”. Isso mesmo. O doente não é, nem mais, nem menos, do que o seu país. É esta a sua tarefa: Fazer o diagnóstico do seu país. Difícil? Acredito que sim. Mas, vamos lá tentar.
A primeira coisa a fazer é aquelas perguntas da praxe para desanuviar o ambiente. Perguntaria, a Cabo Verde, o quê? Depois, pegava no “olhómetro” ou no estetoscópio? Colocaria em que parte de Cabo Verde? Depois, agarrava no termómetro ou no “impressómetro”? Onde mediria a temperatura de Cabo Verde? Queria ver a pulsação. Onde sentiria a pulsação de Cabo Verde?
Para responder a estas perguntas, precisa, antes, saber qual dos dois médico quer ser: O distraído ou o atento.
Se escolher ser o distraído, colocará o seu “olhómetro” e o seu “impressómetro” nas infra-estruturas de Cabo Verde. Nas estradas, nos aeroportos e nos centros de saúde. Sem demorar muito, fará o seguinte diagnóstico: Sr. Cabo Verde, está com bom aspecto. Você está vendendo saúde. Digo-lhe mais: Em África, você é o meu melhor paciente. Pode ir embora.
No entanto, se escolher ser o atento, a sua consulta será feita, mais ou menos, assim: colocará o seu estetoscópio na economia, no desemprego, na pobreza, na energia e na habitação. Depois, o termómetro na segurança, na justiça e na educação. Fará o raio X das empresas e das indústrias. E, finalmente, medirá a PULSAÇAO DA JUVENTUDE.
Passados uns bons minutos, fará este diagnóstico: Oh país, vou ser sincero consigo: Você está muito mal! Precisa de uma mudança urgente na sua vida. Tem de mudar de dieta económica. Da última vez, prometeu-me que iria crescer a sua economia em dois dígitos. E então? Outra coisa: Tem que se preocupar menos com a sua aparência, com as suas estradas, com os seus aeroportos, com o que os outros dizem e com as epidemias e crises internacionais. Mais grave ainda: Tem que diminuir esse seu desemprego. E a sua promessa de “um dígito”? O desemprego não pode estar alto. Dá cabo de si. Tem que acabar com a droga, o crime, a delinquência e esses ataques de thugs. Se fizer esta dieta, vai ter mais segurança. Menos desemprego. Menos dívida. Menos deficit. Caso contrário, vai acabar como aquele outro, a Grécia. Conhece? Está à beira da bancarrota.
Meu caro leitor, esta “metáfora do médico” foi para lhe explicar, no fundo, o que está, ou vai estar, em causa. É isto que nos espera em 2011. É isto que todos nós vamos ter que ser. O médico de Cabo Verde. O distraído ou o atento.
A tarefa será árdua, pois fazemos parte do doente. Cada um de nós é um bocadinho do doente. No fundo, seremos todos médicos e doentes em causa própria.
No entanto, enquanto cidadão, vamos ter de o fazer. Vamos ter que saber como está a saúde do nosso país. Vamos ter que fazer o diagnóstico do nosso país.
Se formos o “médico de olhómetro”, o país estará cheio de saúde. No entanto, se formos o “médico de estetoscópio”, o país estará muito doente.
A escolha será de cada um de nós.
Até breve!

0 comentários:

Enviar um comentário