sexta-feira, julho 16, 2010

O PODER DA IMAGEM

“A imagem sobrevive sem os políticos, mas estes não sobrevivem sem a imagem.” (Autor desconhecido)
O canal de televisão português, TVI, exibiu, há dias, uma grande reportagem,"Cabo Verde: No País da Morabeza”, em que “tentou” mostrar o país real e todo o seu percurso, desde a independência, até os dias de hoje.
Em vésperas de duas importantes efemérides - 35º aniversário da independência e 550 anos da descoberta das nossas dez ilhas - e numa altura em que se fala tanto na “Onda e Marca Cabo Verde”, a peça jornalística, que foi conduzida pela jornalista Conceição Queiroz (creio de origem cabo-verdiana ), veio em boa hora.

O propósito principal da reportagem, que foi emitido em horário nobre, pelo líder de audiência em Portugal - país que acolhe umas das nossas maiores comunidades - devia ser único: dar a conhecer Cabo Verde.
Contudo, não foi só isso. Foi muito mais. Foi, também, uma autêntica “operação de charme” de Neves. Um "show-off".
Neves monopolizou quase todo o programa. Com a duração de cerca de 35 minutos, aparece 9 a 10 vezes (cerca de 6 minutos).
Ainda mais. Os cenários foram escolhidos (não sei por quem) cuidadosamente. Aparece em lugares emblemáticos (mercado do plateau), a passear nas principias ruas, rodeado de pessoas, a mostrar obras (porto da praia), etc. Parecia que estava em campanha!
Chamar o Primeiro Ministro (PM) a dar voz neste tipo de peças, tipo spot promocional, é normal. Mas, monopolizá-la, deixando pouco espaço (ou quase nada) para que os outros principiais protagonístas (os empresários, os operadores turísticos, os historiadores, os académicos, as populações, etc.) se pronunciarem, só contribuiu para a desvirtuar.
Confesso que, como cabo-verdiano, gostei da peça, até certo ponto, visto que promoveu a história, a imagem e o nome de Cabo Verde, enquanto país e destino turístico. Contudo, ter servido para a promoção da imagem do PM, já não. Não gostei de ver o PM ir à boleia.
É que, assim, a reportagem passou uma imagem quase real do país, todavia redondamente falsa do PM.
O que se viu foi um PM muito popular, a ser cumprimentado nas ruas por onde passava, a minimizar os graves problemas da energia e da insegurança, a mostrar grandes obras, etc.
Não se viu o verdadeiro, o PM dos últimos tempos: desnorteado, cansado, contraditório, desalentado e trapalhão. Esse, não se viu nem por um segundo sequer.
A imagem tem, de facto, um grande poder. Consegue até “transformar” o dr. José Maria Neves num bom PM.
Depois de ter sido dado a voz ao governo, na pessoa do PM, era expectável ouvir os partidos de oposição. Quando já se começava a estranhar essa ausência, eis que, no final, aparece o dr. Carlos Veiga.
Primeiro reparo: aparece uma única vez, não mais do que um minuto. Segundo, o cenário escolhido não podia ser pior: sentado numa cadeira, num lugar castanho, meio desértico, sem nenhuma alma por perto.
Enquanto Neves aparece num cenário alegre, no meio de pessoas, a passear e passando a imagem de grande popularidade, Veiga estava sentado, numa encosta e longe da população. Com tantos cenários mais alegres, mais bonitos, mais verdes e mais “a Cabo Verde” (praias, verde do interior, etc), pergunto por que foi escolhido logo aquele?
Não percebi as escolhas. Quem é que as fez? Foi a produção? Não sei! A única certeza que tenho é que, em termos de imagem, foi benéfica para Neves e muito prejudicial para Veiga.
Outrossim, se o propósito fosse, de facto, mostrar a história do país, onde Veiga teve um papel, indiscutível, maior do que Neves, ou a promoção da imagem de CV em Portugal, onde Veiga goza de uma notoriedade e de uma popularidade, em vários meios (académico, politico, nas comunidades), muito superior a de Neves (assim como, se calhar, no Brasil, Neves ganha a Veiga), não justificaria um maior destaque e um maior protagonismo de Veiga?
Sinceramente, ainda me custa entender qual foi o verdadeiro propósito do programa. Foi jornalístico? Promocional? Político? Ou uma mistura disto tudo?
Verdade seja dita que, de alguma forma ou de outra, a imagem de Cabo Verde, um país de pessoas simpáticas, de Morabeza, um destino a ser visitado e descoberto, acabou por passar. Também, não é menos verdade que, intencional ou não, passaram erradamente duas imagens: uma de Neves, muito pela positiva, e outra de Veiga, pela negativa.
Hoje, já ninguém duvida do peso e da influência que a imagem tem nas escolhas políticas dos eleitores. Por isso, arriscar-me-ei a dizer que, nas próximas eleições (provavelmente, as mais renhidas de sempre), serão os pequenos detalhes, sobretudo a imagem, que farão toda a diferença.
Até breve!

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