sexta-feira, julho 16, 2010

O PAÍS QUE TEM MAIS TAXA QUE EMPREGO

O Instituto Nacional de Estatística (INE) divulgou a taxa de desemprego (TD), melhor dizendo, as “taxas de desemprego”. Percebeu? Parece-lhe confuso? A mim, também.
Pode parecer-lhe estranho, mas é verdade. De uma assentada, o país passou a ter duas taxas de desemprego: a nova, de 13,1% e a antiga, de 20,9%. Já agora, isto não dá direito ao Guinness?

Parece que o INE resolveu mudar a regra, e de repente. Justificou o insólito com a necessidade em ter uma “metodologia no cálculo do índice que permite ter uma comparabilidade com outras realidades (Portugal e França) ou organismos internacionais (BM e Afristat)”.
Diz o INE que a nova taxa retira do número de desempregados os estudantes e os doentes. Um argumento razoável. E os empregos temporários, precários e sazonais como, p.e, a apanha de areia? Contam? Que eu saiba esses “países de referência” não têm empregos tipo “apanha de areia”. Mesmo assim, as taxas são comparáveis? Desculpem-me a ignorância, mas é difícil perceber este imbróglio.
Faz todo sentido sermos ambiciosos e acompanharmos as realidades mais desenvolvidas. Mas, desta forma?
Sei que o INE não tem que dar cavaco às pessoas do que faz. Mas, neste caso, não se justificava uma prévia explicação?
As mudanças profundas, importantes e sérias, susceptíveis de gerar grande confusão no seio da sociedade, como é o caso, geralmente são pensadas e amadurecidas, durante algum tempo, e depois explicadas e comunicadas, muito antes de serem implementadas.
Pergunto: esta “regra” não deveria, também, ser aplicada a este caso? A nova metodologia do cálculo do índice não deveria ser comunicada ao país, na altura em que se decidiu pela sua introdução, e não no acto da divulgação dos resultados? Seria, com certeza, a atitude mais sensata.
Outro aspecto. Todos nós sabemos que a TD é um instrumento de jogo político. A performance de qualquer governo é medida pela política de emprego. Falhar na criação de emprego é ser um governo falhado. Os governos sabem-no. Por isso, em qualquer parte do mundo, o desemprego é das palavras mais usadas, nas campanhas políticas, para atacar qualquer governo.
Estamos em pleno ano eleitoral. Em Setembro, começará a pré-campanha. O argumento do desemprego vai ser, legítimamente, utilizado pela oposição para responsabilizar o actual governo.
Já estou a ver o filme. A oposição vai dizer: temos uma elevada TD, acima de 20%. O governo vai repostar: não! Vocês estão enganados! Não sabem ler os números do INE? Baixamos a TD para 13%, e quase atingimos a nossa meta de “um dígito”.
Ou seja, vai ser uma tremenda confusão. E quanto maior for o ruído, menor será a força do argumento. E este “mudar da regra a meio do jogo” vai beneficiar a quem? Obviamente a quem defende (leia-se “quem governa”).
O que assistimos hoje é uma autêntica obsessão e batota com os números dos três "D"- défice, dívida e desemprego (vejam o caso dos “PIGS” - Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha - que estão a ser acusados de batota com os seus défices e dívidas).
Ora pergunto: Também houve batota neste caso? Não quero querer.
Tenho por mim que o INE é uma das poucas instituições credíveis em CV. Todavia, o seu nome ficou, de alguma forma, manchado com este despropositado incidente. Agora, vai ter de se explicar perante a Comissão Especializada do Parlamento e o país. Valia a pena?
A ressalvar, entretanto, que o desemprego, o real, aumentou 3,1pp (17,4%). Ou seja, “políticas de mudanças de taxas” não criam empregos, a não ser “empregos de papel”. Para se criar emprego são precisas políticas sérias e acertadas que redundam no crescimento económico: aquelas viradas para pessoas, empresas e indústrias.
Fazendo uma leitura humorística destes números divulgados, diria que, finalmente, este governo conseguiu baixar o desemprego. Contudo, falta atingir a mais ambicionada de todas as taxas: a de “um dígito”. Tê-la-emos antes das eleições? Creio que não. Ah! Esperem aí! Lembrei-me que falta, ainda, a taxa do IEFP. Pode ser que essa traga o tão almejado “um dígito”. Mas, nesta andança, corremos sérios riscos de passarmos a ser conhecidos como “o país que tem mais taxa que emprego”.
Até breve!

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